sexta-feira, 15 de abril de 2011

..coisa de mulher romântica


Daquela festa, aquele sábado, chutando baixo, poderia ter saído dois casamentos e um namoro. Havia pessoas interessantes lá, mas o fato é que elas só se tornam realmente interessantes à luz do dia, não naquelas luzes néon e aquela pista de led. É que, sendo bem sincera, naquele escuro não dava pra notar. Inclusive, a vodca era absolut, o energético estava a preço promocional e o menino mais bombadinho da festa, com gel no cabelo, camiseta polo play e um relógio maneiro estava dando mole pra ela. ‘’Pronto, lucrei’’, sussurrou, fazendo cara de menina malandra. O cabelo estava todo trabalhado na escova e o vestido, de longe, era o mais bonito da festa, ela tinha a obrigação moral de estar sorrindo. ‘’Sortuda!’’ invejavam as amigas. Aquela era, sem dúvida, a melhor festa da cidade e ela tinha um cabelo liso, um salto agulha e estava investindo pesado na dose de vodca com energético. Aquilo sim era aproveitar a vida com tudo que há de bom.
Mas e o vazio que ela sentira noites a fio deitada no travesseiro cor-de-rosa chá?! Por incrível que pareça ele ainda estava lá. Ela não sentia nada, não conseguia sentir nada. Qualquer coisa que ousasse se parecer com sentimento ela estava topando. Afinal, nada parecido pousa por lá há tempos. Não sente mais as borboletas no estômago e nem chora em comédias românticas. Não tem coração, que dirá pulsação.. ocupou o lugar um grande buraco chamado vazio. Vazio este que não acrescenta, não subtrai, não entristece, não é gelado nem quente. É morno. É nada. E como algum sábio disse um dia desses: "mil vezes zero é zero". Ela só queria ser tocada no fundo, que a trouxessem pra vida de novo. Que a descolagelassem. Só queria lembrar como é a sensação daquelas borboletas no estômago. Como é se preocupar com alguém, estar com alguém no domingo chuvoso, não por tédio, mas por realmente sentir prazer em estar ali, presa no sofá vendo Faustão. Ela queria ver um ursinho bobo na vitrine de uma loja qualquer e, sem razão ou motivo aparente, achar aquilo a coisa mais romântica do mundo todo. Era só por um amor perene que ela rezava todos os dias. “Um amor tranquilo com sabor de fruta mordida”. Sem precisar que a vodca e a promoção de energético os digam que ela é boa o suficiente pra ter qualquer cara interessante...

1 comentários:

L. Antonio disse...

Adorei seu blog, sem palavras, você escreve muiito, parabens!

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